A história por trás do termo
O termo "deserto alimentar" foi popularizado nos Estados Unidos por pesquisadores e ativistas preocupados com o acesso desigual a alimentos saudáveis, especialmente em comunidades de baixa renda e minorias. Embora o conceito tenha sido amplamente discutido a partir da década de 1990, foi o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que ajudou a formalizar a definição de desertos alimentares em suas políticas públicas.
Um dos primeiros estudos acadêmicos que investigou desertos alimentares foi publicado por Cummins e Macintyre em 2002, que analisaram o impacto da falta de acesso a alimentos frescos em áreas urbanas. No entanto, o conceito ganhou mais notoriedade com políticas públicas e debates envolvendo o USDA nos anos seguintes.
O que é um deserto alimentar?
O termo "deserto alimentar" se refere a locais onde o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou impossível, obrigando as pessoas a se locomoverem para outras regiões para obter esses itens.
Esses desertos são mais comuns em áreas urbanas de baixa renda ou regiões rurais isoladas, onde há poucos supermercados ou mercados de alimentos frescos. Muitas vezes, os moradores dependem de lojas de conveniência ou fast food para se alimentar.
Como surgem os desertos alimentares?
Os desertos alimentares são resultado de uma combinação de fatores socioeconômicos e geográficos. Alguns dos principais motivos incluem:
Desigualdade Econômica: Em comunidades de baixa renda, grandes redes de supermercados muitas vezes evitam abrir lojas por causa do retorno financeiro limitado, deixando essas áreas com poucas opções de alimentos saudáveis.
Infraestrutura de Transporte: Em muitas áreas rurais ou até mesmo urbanas, os moradores podem ter dificuldade em acessar mercados ou feiras, por falta de transporte público ou por longas distâncias a percorrer.
Falta de Políticas Públicas: A ausência de incentivos governamentais para que lojas e mercados de alimentos saudáveis se instalem em áreas mais vulneráveis agrava a situação.
Impacto dos Desertos Alimentares na Saúde
A ausência de alimentos in natura e minimamente processados faz com que a população que vive num deserto alimentar baseie sua alimentação em alimentos ultraprocessados e processados, e isso se traduz num risco muito maior de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão e obesidade.
Estudos mostram que as comunidades afetadas por desertos alimentares têm maiores taxas dessas doenças crônicas em comparação com regiões onde há maior disponibilidade de alimentos saudáveis. Além disso, crianças que crescem nesses ambientes são mais propensas a desenvolver deficiências nutricionais, o que pode impactar negativamente seu crescimento e desenvolvimento.
Como mudar esse cenário?
Resolver o problema dos desertos alimentares envolve uma abordagem integrada, que considera a melhoria das infraestruturas, o apoio a políticas públicas e iniciativas locais. Algumas soluções incluem:
Mercados Comunitários: Incentivar a criação de mercados locais ou cooperativas onde os alimentos frescos possam ser vendidos a preços acessíveis.
Incentivos para Supermercados: Políticas que ofereçam incentivos fiscais para que grandes redes de supermercados abram filiais em áreas desprovidas de alimentos frescos.
Educação Alimentar: Investir em programas que promovam a educação alimentar e nutricional, para que as pessoas conheçam as opções mais saudáveis disponíveis e saibam como melhorar sua dieta.
Hortas Urbanas: Apoiar a criação de hortas comunitárias, que podem aumentar o acesso a alimentos frescos e, ao mesmo tempo, fortalecer laços dentro da comunidade.
Os desertos alimentares são uma realidade preocupante e muitas vezes invisível, que afeta diretamente a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas. Combatê-los exige esforço conjunto, tanto da comunidade quanto de políticas públicas que incentivem o acesso equitativo a alimentos saudáveis e acessíveis.
Confira essa cartilha informativa do Idec (Instituto de defesa do consumidor) sobre desertos alimentares no Brasil clicando aqui.
✍🏼Milena Hernandes - Nutricionista
📌CRN-3 63747
Referências:
Cummins, Steven, and Sally Macintyre. “"Food deserts"--evidence and assumption in health policy making.” BMJ (Clinical research ed.) vol. 325,7361 (2002): 436-8. doi:10.1136/bmj.325.7361.436
Beaulac J, Kristjansson E, Cummins S. A systematic review of food deserts, 1966-2007. Prev Chronic Dis. 2009;6(3):A105.
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