Em primeiro lugar, vamos esclarecer que os alimentos não podem ser considerados viciantes de fato. Não existe comprovação científica robusta que permita que nós usemos esse termo para falar de comida. Mas, existem muitos estudos conceituando adicção alimentar.
O que é adicção alimentar?
A adicção alimentar é um conceito mais específico e clínico, baseado em pesquisas sobre a relação entre alimentos ultraprocessados e os circuitos de recompensa no cérebro. A adicção alimentar sugere que certos alimentos, especialmente aqueles com combinações de açúcar, gordura e sal, podem desencadear respostas no cérebro semelhantes às observadas em vícios por substâncias, como drogas e álcool.
Pesquisadores como Gearhardt et al. (2009) desenvolveram o Yale Food Addiction Scale (YFAS), um instrumento utilizado para identificar comportamentos relacionados à adicção alimentar. A YFAS adapta os critérios utilizados para diagnosticar transtornos por uso de substâncias, aplicando-os ao comportamento alimentar. Alguns dos principais critérios incluem:
Consumo em quantidades maiores ou por mais tempo do que o pretendido;
Desejo persistente ou tentativas mal-sucedidas de controlar o consumo de certos alimentos;
Uso contínuo de alimentos, mesmo diante de problemas físicos ou psicológicos causados por eles;
Sintomas de abstinência ao tentar evitar esses alimentos.
Não podemos atualmente fazer o diagnóstico de adicção alimentar, já que ele não está contemplado no Manual de Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
Compulsão X Adicção alimentar
A principal diferença está no conceito de dependência física e no papel dos alimentos ultraprocessados como substâncias que podem desencadear respostas químicas no cérebro, levando a padrões de consumo compulsivo.
Enquanto nos transtornos alimentares o foco pode estar em fatores emocionais e comportamentais mais amplos, na adicção alimentar há um componente neurobiológico que liga diretamente o consumo de certos alimentos ao sistema de recompensa do cérebro.
Resumindo, no transtorno de compulsão alimentar, o indivíduo come uma quantidade muito grande de alimento em um curto período de tempo e o tipo de alimento é inespecífico, enquanto na adicção alimentar, o consumo pode ser dividido em vários períodos no dia, a busca é por alimentos específicos (ultraprocessados, alimentos ricos em carboidratos refinados e gorduras adicionadas) e outros mecanismos neurobiológicos estão envolvidos.
Conclusão
A adicção alimentar é um conceito que ajuda a explicar por que muitas pessoas sentem uma "atração" irresistível por alimentos ultraprocessados, muitas vezes com impactos prejudiciais à saúde. Embora o campo ainda esteja em desenvolvimento e existam divergências sobre a aplicabilidade do termo, o crescente corpo de evidências sugere que determinados alimentos podem, de fato, desencadear um hiperestímulo ao sistema de recompensa no cérebro, especialmente em pessoas mais vulneráveis.
✍🏼Milena Hernandes - Nutricionista
📌CRN-3 63747
Referências:
Gearhardt, A. N., Corbin, W. R., & Brownell, K. D. (2009). Development of the Yale Food Addiction Scale version 2.0. Psychological Assessment, 21(4), 528-541.
Gearhardt, A. N., Yokum, S., Stice, E., Harris, J. L., & Brownell, K. D. (2011). Relation of obesity to neural activation in response to food commercials. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 6(3), 321-328.
Schulte, E. M., Avena, N. M., & Gearhardt, A. N. (2015). Which foods may be addictive? The roles of processing, fat content, and glycemic load. PLoS One, 10(2), e0117959.
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