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Barrinhas de Proteína e Snacks Saudáveis: Estamos Realmente Fazendo Boas Escolhas?

Romantização de quê?

Todo mundo parece estar muito preocupado com a "romantização da obesidade", mas raramente paramos para refletir sobre a romantização dos alimentos ultraprocessados. E, sabe quem ajuda a romantizar esses produtos, que estão associados a um maior risco de obesidade e outras doenças crônicas? Nós mesmos — nutricionistas, médicos, influenciadores e criadores de conteúdo.


"Romantização da obesidade"

Antes de mais nada, quero esclarecer o que eu quis dizer na minha primeira frase. Quando falamos de romantização da obesidade, na verdade, estamos lidando com uma ideia que não existe, certo? Não tem ninguém por aí fazendo conteúdos do tipo: "3 dicas para ganhar 5kg em 1 semana", ou "Aprenda como engordar 10kg", "5 benefícios de ser gordo na sociedade". Isso seria completamente absurdo.


Quando alguém acusa um conteúdo de romantizar a obesidade, o que normalmente está acontecendo é uma expressão de gordofobia. A pessoa está julgando alguém que provavelmente só está ali, existindo, vivendo sua vida em paz. Então, é importante termos cuidado ao abordar esse tipo de discurso.


Alimentos ultraprocessados

Agora, entrando no nosso tema principal: os alimentos ultraprocessados. Esse grupo de alimentos é classificado de acordo com a Classificação NOVA (Monteiro CA, Cannon G, Levy RB et al 2016), e basicamente, consiste em uma combinação de ingredientes isolados dos alimentos, como açúcares, gorduras e sal, além de vários aditivos químicos. Tudo isso tem um único objetivo: tornar esses produtos mais baratos, palatáveis e com uma vida de prateleira muito longa.


Quando você olha para um alimento ultraprocessado, você não consegue identificar claramente os ingredientes presentes nele. Se você deixa um pacote na sua despensa, ele pode ficar lá por meses ou até anos sem estragar. Esse tipo de alimento é altamente conveniente, mas precisamos questionar qual o impacto disso para a nossa saúde.


Como o profissionais da saúde corroboram para o consumo dos ultraprocessados

Muitos profissionais de saúde e ainda mais influenciadores e criadores de conteúdo contribuem essa romantização do alimentos ultraprocessados ao recomendar produtos como barrinhas de proteína, snacks aparentemente saudáveis e outras opções como sendo boas alternativas. Esses alimentos são recomendados com base na sua quantidade de calorias ou na proporção de macronutrientes, como proteínas e carboidratos. No entanto, ao fazer isso, corremos o risco de resumir a alimentação a números, e ignorando fatores importantes, como (qualidade e quantidade) de ingredientes e o grau de processamento.


Muitos desses produtos, apesar de se apresentarem como saudáveis, são ultraprocessados, cheios de aditivos, conservantes e combinações de ingredientes isolados de alimentos. Precisamos lembrar que a qualidade do alimento vai além de calorias e macros — envolve também a integridade nutricional e o impacto a longo prazo que o consumo regular deste pode ter na nossa saúde (e de nossos pacientes).


Então, da próxima vez que falarmos sobre "romantização", talvez seja importante voltar nossa atenção para o quanto nós, como sociedade — e especialmente nós, profissionais de saúde — ajudamos a normalizar e até glorificar o consumo desses alimentos ultraprocessados. O impacto desse comportamento é muito real e precisa ser abordado com seriedade.


✍🏼Milena Hernandes - Nutricionista

📌CRN-3 63747


Referências:

  1. Ultra-processed food and drink products in Latin America: Trends, impact on obesity, policy implications. Washington, DC : PAHO, 2015.

  2. Monteiro CA. Nutrition and health. The issue is not food, nor nutrients, so much as processing. Public Health Nutr. 2009;12(5):729–31.

  3. Monteiro CA, Cannon G, Levy RB, Claro RM, Moubarac JC. The food system. Ultraprocessing. The big issue for nutrition, disease, health, well-being. World Nutr. 2012;3(12)527–69.


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