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Ambientes obesogênicos: o que são e como nos afetam?

Você já ouviu falar no termo "ambiente obesogênico"? É um conceito essencial para entender como fatores externos influenciam nossas escolhas alimentares e o estilo de vida, muitas vezes sem percebermos. O ambiente obesogênico afeta as escolhas individuais e a saúde pública como um todo, e precisamos disseminar esse tipo de conceito para que aos poucos, possamos diminuir a culpabilização do indivíduo por escolhas alimentares pouco saudáveis.


O Que é Ambiente Obesogênico?


O termo ambiente obesogênico foi introduzido e popularizado por Boyd Swinburn e seus colegas no final da década de 1990. Ele descreve ambientes que incentivam o ganho de peso e o desenvolvimento de obesidade por meio de influências que vão desde a disponibilidade excessiva de alimentos ultraprocessados até a redução de oportunidades para atividade física (Swinburn et al., 1999). Esses ambientes não ocorrem apenas de forma isolada, mas estão profundamente enraizados nas sociedades modernas, especialmente nas áreas urbanas.


Em outras palavras, vivemos em um ambiente que nos empurra para escolhas não saudáveis, e isso vai muito além das decisões individuais. Como exemplo, pense nas ruas com restaurantes de fast food a cada esquina, as propagandas que promovem alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes, e na estrutura das cidades que frequentemente limita o acesso a espaços para exercícios físicos, como parques ou ciclovias. O resultado disso é um ambiente que facilita o desenvolvimento da obesidade.


Como o Ambiente Influencia Nossas Escolhas?

É importante lembrar que o ambiente obesogênico não nos força diretamente a ganhar peso, mas ele cria um cenário onde é mais difícil manter uma alimentação saudável e um estilo de vida ativo. Veja alguns dos fatores mais comuns que moldam esse tipo de ambiente:

  1. Disponibilidade de Alimentos Ultraprocessados: Supermercados e lojas de conveniência são lotados de alimentos ricos em calorias, sal, açúcar, gordura e aditivos químicos. Esses produtos são frequentemente mais baratos, hiperpalatáveis e duram muito mais tempo na prateleira do que alimentos frescos. Na maioria das regiões periféricas, os ultraprocessados são a opção mais acessível.

  2. Publicidade Agressiva: As indústrias alimentícias gastam bilhões todos os anos em campanhas de marketing que promovem fast food, bebidas açucaradas e lanches industrializados. Essa publicidade atinge, em especial, crianças e adolescentes, criando desde cedo hábitos alimentares prejudiciais (Harris et al., 2019).

  3. Falta de Acesso a Alimentos Saudáveis: Muitas regiões enfrentam o que chamamos de desertos alimentares, onde é difícil ou caro encontrar frutas, verduras e outros alimentos frescos. O acesso limitado a esses produtos força as pessoas a recorrerem a opções ultraprocessadas.

  4. Sedentarismo e Falta de Infraestrutura: Cidades construídas para carros, com pouca infraestrutura para caminhadas, ciclismo ou atividades ao ar livre, contribuem para uma vida mais sedentária. A ausência de parques e academias de baixo custo também são fatores que limitam a prática de atividades físicas.


O Que Podemos Fazer Para Combater o Ambiente Obesogênico?

Como nutricionista, vejo a educação alimentar como uma ferramenta essencial, mas também sei que mudanças no comportamento individual, por si só, não são suficientes para combater os efeitos de um ambiente obesogênico. Precisamos de mudanças estruturais, políticas públicas eficazes e conscientização de toda a sociedade. Aqui estão algumas abordagens que considero essenciais:

  • Políticas de regulação da publicidade: Limitar a propaganda de alimentos ultraprocessados, especialmente para o público infantil, pode reduzir o impacto desses produtos no nosso dia-a-dia.

  • Incentivar ambientes alimentares mais saudáveis: Promover mercados de alimentos frescos, hortas comunitárias e incentivar supermercados a se instalarem em áreas de deserto alimentar pode facilitar o acesso a opções mais nutritivas.

  • Acessibilidade a espaços de atividade física: Melhorar a infraestrutura das cidades, com ciclovias, parques e áreas para prática de exercícios, pode aumentar o nível de atividade física da população e ajudar a prevenir a obesidade.

  • Educação nutricional: Informar as pessoas sobre os riscos do consumo excessivo de ultraprocessados e sobre como escolher alimentos de forma consciente é fundamental. Porém, é importante que essa educação leve em consideração o contexto social e econômico das comunidades, promovendo soluções realistas e acessíveis.


Conclusão

O ambiente obesogênico é uma realidade que não pode ser ignorada. Ele vai além das escolhas individuais, afetando a sociedade como um todo. Como nutricionista, vejo que o caminho para uma alimentação mais saudável não depende apenas de dietas ou do autocontrole, mas de mudanças no ambiente em que vivemos. Precisamos transformar as cidades em espaços que facilitem escolhas saudáveis, para que uma alimentação equilibrada e a prática de atividades físicas se tornem algo natural e acessível a todos.


Referências:

  1. Swinburn, B., Egger, G., & Raza, F. (1999). Dissecting obesogenic environments: the development and application of a framework for identifying and prioritizing environmental interventions for obesity. Preventive Medicine, 29(6), 563-570.

  2. Harris, J. L., Schwartz, M. B., & Brownell, K. D. (2019). Marketing of foods and non-alcoholic beverages to children. World Health Organization, Geneva.

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